Sinto em dizer que reconheço as pessoas por emoticons ou pelas fontes que usam. Sinto também em admitir “dar risadas” de tirar o fôlego sem mover um único músculo da face enquanto digito inúmeros “KKK” (assim, em caixa alta). Afinal, quem somos na internet?
Penso que a internet
instigou em nós a vontade de viver em um mundo diferente, em ser uma
pessoa diferente da que somos realmente. Essa identidade pode ser
alegre, daquele tipo que é feliz o tempo todo, ou pode ajudar a
colocar pra fora o lado sombrio de quem se equilibra entre as
dificuldades de se viver em um mundo que exige de nós positividade,
bom humor e confiança.
Vivemos mais de uma
vida. Enquanto as coisas podem estar desmoronando na vida aqui fora,
na internet ela brilha. A rede virou ponto de escape pra muita gente.
O problema é que ela também ampliou horizontes e acabou mudando as
referências pessoais dentre os mais diversos assuntos. Um exemplo?
Abra um site e veja a vida das celebridades. Agora, pense num post
sobre o seu fim de semana para uma rede social. Me diga agora: como
não achar sua vida sem graça?
Não falo apenas do
fato de que as pessoas inventam coisas pra se promover na rede como
felizes e bem sucedidas. Falo de como elas mascaram sentimentos. E de
como, cada vez menos, se importam com a vida real.
As últimas tentativas
da indústria em aproximar as pessoas num ambiente virtual, usando
mensagens de voz e vídeo nos aplicativos de troca de mensagens,
podem incomodar quem prefere viver totalmente aquém da verdadeira
identidade. Há quem queira se distanciar tanto do mundo real, que o
simples fato de mostrar a própria voz já é perturbador.
A internet se tornou
paradoxal. Por um lado, feita para aproximar pessoas e encurtar
distâncias, passou a escudo virtual, usado insistentemente para que
a distância entre real e inventado seja a maior possível.